COLAPSO: o Botafogo de John Textor entre a glória de 2024 e o caos de 2025

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De campeão continental a equipe sem rumo: erros de gestão, contratações desastrosas e decisões incoerentes arrastam o clube para uma das temporadas mais frustrantes da era SAF.

Por Danilo Pires
📍 Rio de Janeiro – outubro de 2025

Do auge à desordem

Um ano depois de conquistar a Libertadores e o Brasileirão, o Botafogo vive o seu ponto mais baixo sob a gestão de John Textor.
A equipe que encantou o país em 2024 hoje é o retrato do descontrole, da falta de planejamento e da desorganização interna que tomou conta da SAF alvinegra.

O que deveria ser o amadurecimento de um projeto vencedor se transformou em um colapso técnico e administrativo.
O clube, que tinha base sólida, elenco entrosado e treinador experiente, mergulhou em decisões apressadas, trocas mal pensadas e interferências diretas do dono.

Davide Ancelotti e o erro do improviso

Após a saída de Artur Jorge, o Botafogo passou semanas em busca de um novo técnico. Foram várias negativas até John Textor optar por Davide Ancelotti, filho de Carlo, que chegou ao Brasil com o status de promessa, mas sem experiência como treinador principal.

O resultado não demorou a aparecer: um time sem padrão, sem intensidade e sem ideias.
A equipe se tornou previsível, frágil defensivamente e ineficiente no ataque.
Davide tenta implantar um modelo europeu em um elenco em reconstrução, mas não encontrou sintonia com o grupo.
O Botafogo virou um time que parece treinar menos do que pensa — e pensa sem agir.

Crise na SAF e desgaste com a Áries

Fora das quatro linhas, a turbulência não é menor.
A parceria com a Áries, empresa responsável por parte da gestão administrativa da SAF, se transformou em um campo de guerra. Divergências internas, disputas por decisões e até a saída de executivos próximos a Textor evidenciaram o racha na estrutura de comando.

Enquanto o americano centraliza todas as decisões, as áreas técnicas e estratégicas perdem autonomia. O modelo que prometia profissionalismo virou um sistema personalista, em que as decisões são tomadas de forma emocional e improvisada.

Saídas que desmontaram o elenco campeão

A derrocada dentro de campo começou com a saída de peças fundamentais da equipe campeã de 2024. Em menos de seis meses, o Botafogo perdeu três pilares — Igor Jesus, Gregore e John — que eram a espinha dorsal do time.

Igor Jesus, artilheiro e símbolo do título continental, foi vendido ao futebol inglês por cerca de R$ 120 milhões. Sua saída desmontou o setor ofensivo, que nunca mais reencontrou o mesmo poder de decisão.

No meio-campo, a perda de Gregore, líder técnico e motor do time, foi ainda mais sentida.
O volante aceitou uma proposta do Al-Rayyan, do Catar, para reencontrar o técnico Artur Jorge, e sua ausência expôs a falta de equilíbrio entre defesa e ataque. Sem ele, o Botafogo perdeu intensidade, combate e compactação.

O goleiro John, outro pilar da campanha histórica, também deixou o clube rumo à Europa.
Para o seu lugar, chegou Neto, arqueiro experiente vindo do futebol europeu, que infelizmente não correspondeu às expectativas. Falhou em jogos importantes, sendo o mais marcante deles o clássico contra o Vasco, pelas quartas de final da Copa do Brasil, em que comprometeu a classificação.

Além desses desfalques cruciais, o clube também viu partir dois jogadores que já tinham saídas previstas: Luiz Henrique, destaque ofensivo, seguiu para o Zenit, da Rússia, enquanto Thiago Almada foi transferido para o Lyon, da França.

Ambas as negociações já estavam acordadas desde 2024, mas a perda simultânea de tantos nomes importantes dificultou a reposição e desarticulou a engrenagem do time campeão.

Outra baixa significativa foi a do atacante Júnior Santos, um dos heróis da conquista da Libertadores. O jogador foi negociado com o Atlético Mineiro por um valor alto — cerca de R$ 50 milhões, mas com pagamento parcelado em várias vezes.

A saída do atacante, decisivo em momentos históricos e peça-chave na intensidade ofensiva, deixou um vazio técnico e emocional. A operação financeira pode ter aliviado momentaneamente o caixa, mas ampliou o descompasso esportivo dentro de campo.

Contratações caras e resultados decepcionantes

Reforços caros, pouco retorno em campo.
Reforços caros, pouco retorno em campo.

Para recompor o elenco, o Botafogo foi ao mercado e gastou alto, mas as escolhas mostraram-se equivocadas. O clube investiu pesado em Artur Cabral, contratado por cerca de R$ 95 milhões, e em Joaquim Corrêa, atacante vindo da Internazionale de Milão. Nenhum deles conseguiu render o esperado.

Artur Cabral ainda busca ritmo e adaptação ao futebol brasileiro, alternando bons momentos e partidas apagadas. Já Corrêa, que chegou como esperança de velocidade e criatividade, se mostrou irregular e pouco participativo. O ataque, que em 2024 era o ponto forte do time, virou uma das maiores fragilidades da temporada.

 

Os poucos acertos: Danilo, David Ricardo e Pantaleão

Em meio ao caos, algumas peças conseguiram se destacar. O camisa 35, Danilo, assumiu com personalidade a função que era de Gregore e se tornou um dos poucos pontos positivos do time. Com intensidade e regularidade, o volante tem sido essencial na recomposição e na saída de bola.
Sua evolução é uma das raras demonstrações de que ainda há talento e disciplina no elenco.

Na defesa, David Ricardo e Pantaleão se firmaram como dupla confiável, trazendo estabilidade e liderança a um sistema antes vulnerável. Ambos vêm sendo elogiados pela leitura tática e pelo comprometimento dentro de campo.

Mas esses acertos pontuais são insuficientes diante do tamanho do desajuste coletivo.
O Botafogo montou um elenco caro, mas sem identidade — e paga o preço por escolhas erradas em todos os níveis da gestão.

 

Os números do fracasso

Indicador 2024 2025

Títulos conquistados Libertadores e Brasileirão Nenhum
Posição no Brasileirão 1º lugar 9º lugar (em outubro)
Aproveitamento de pontos 69% 47%
Gols marcados 74 39
Gols sofridos 31 48
Técnicos na temporada 1 3
Investimento em reforços R$ 210 milhões R$ 300 milhões+
Torcida média no Nilton Santos 38 mil 29 mil

 

Um gigante desorganizado

O Botafogo de 2025 é o retrato de um clube que tem dinheiro, mas não tem direção. A SAF vive um conflito entre ambição e planejamento, entre discurso e prática. John Textor, que foi aclamado como o salvador do Glorioso, hoje é visto como o principal responsável por um time sem alma, sem padrão e sem resultados.

A torcida, que lotou o Nilton Santos durante a campanha vitoriosa de 2024, agora assiste a um elenco confuso e desmotivado. Mas, mesmo em meio ao caos, o botafoguense segue acreditando que o clube pode se reerguer — como aconteceu em 2023, quando o fracasso virou aprendizado e a dor se transformou em combustível para a glória.

O Botafogo já provou que sabe renascer.

Resta saber se John Textor aprendeu com os próprios erros para não transformar um sonho de hegemonia em mais um capítulo de improviso e decepção.
📰 Edição: Portal Alvinegro / Rio Press
📷 Reportagem crítica de Danilo Pires

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